segunda-feira, 7 de junho de 2010

in Ípsilon, 24/12/2009

Escolhas de Teatro de 2009

Jorge Louraço Figueira, Rita Martins e Rui Pina Coelho

1. Esta noite improvisa-se
De Luigi Pirandello
Encenação de Jorge Silva Melo, Artistas Unidos, Teatro Nacional D. Maria II

O termo pirandellismo é hoje um vago sinónimo para temas tão singulares como a comédia social, o teatro-dentro-do teatro ou a força do inconsciente e da loucura, mas, este ano, Jorge Silva Melo e uma brava trupe de cerca de 30 actores ergueram a provocação pirandelliana numa lógica de alegre respeito e, simultaneamente, de nostálgica visita. Se o tom geral era o de um feliz Carnaval polifónico caoticamente orquestrado, Silva Melo introduzia pelas frágeis fissuras da representação uma encantadora nostalgia pelos primeiros anos dos Artistas Unido, por outras encenações do texto de Pirandello, por uma Lisboa antiga, fadista e gaiata, pela história do teatro e do cinema europeu; em suma, por uma Europa e por uma vida que não existe mais e que, no teatro, se pode ainda fingir que existe. Espectáculo organizado sob o signo do monumental, proporcionou interpretações memoráveis a um vasto grupo de actores que criaram a vertigem e a febre pirandelliana, o então e o agora, com a hombridade de quem fala de si próprio. Rui Pina Coelho

2. Arquitectar
De the TEAM
Encenação de Rachel Chavkin, Culturgest

Uma cidade em ruínas, um furacão, projectos de reconstrução, o novo e o velho, uma arquitecta, um "casting", um "remake" de "E Tudo o Vento Levou", o regresso a casa, uma cantiga folk. Depois de os Elevator Repair Service terem andado à procura da identidade americana nos romances do início do século XX ("O Grande Gatsby", de Scott Fitzgerald, e "O Som e a Fúria", de William Faulkner), o colectivo the TEAM fez de "E Tudo o Vento Levou", de Margaret Mitchell, a medida certa para olhar para uma América ferida, pós-Bush e pós Katrina. "Arquitectar" foi um espectáculo de uma arquitectura dramatúrgica magnífica, com o romance de Mitchell a servir como elo de ligação entre diversas narrativas, sempre com a América de Obama em pano de fundo - uma nação indecisa entre a amnésia e a construção, entre o luto e a festa. R.P.C.


3. O Som e a Fúria
De William Faulkner
Encenação de John Collins, Elevator Repair Service, Culturgest

O encenador John Collins aprecia as dificuldades. Decidiu, então, transpor para a cena a primeira secção do romance de Faulkner - «Sete de Abril, 1928». Mais uma vez, o trabalho experimental da companhia distinguiu-se pelo rigor dramatúrgico, assegurado por uma equipa coesa e interpretações impecáveis, que arrastaram o espectador para o interior emotivo de uma consciência, um fluxo de imagens, sons e palavras, entre o passado e o presente. Rita Martins


4. Jardim Zoológico de Cristal
De Tennessee Williams
Encenação de Nuno Cardoso, Ao Cabo Teatro, Centro Cultural Vila Flor

Nesta encenação de Nuno Cardoso, as figuras inventadas por Tennessee Williams são tratadas como seres encarcerados, paralisados pela fragilidade do desejo, com medo de se partir. São como manequins numa montra (a quem se imagina uma vida), semelhantes à colecção de figurinhas de animais pela qual Laura mede o mundo. O trabalho a partir do solipsismo e da nostalgia do outro (de que os portugueses parecem feitos) é o grande trunfo do espectáculo. Jorge Louraço Figueira


5. Porque é que não estás contente?
De David Pereira Bastos, a partir de Tchékhov
Encenação de David Pereira Bastos, Casa Conveniente

David Pereira Bastos cruzou diálogos de "A Gaivota" com excertos de "Hamlet", apresentou conflitos entre mães e filhos, desencontros amorosos e o encontro com a arte. Com o solilóquio "ser ou não ser" como fundo, o teatro fez-se pensamento, acção e reflexão através de interpretações intensas, concisas, comoventes. R.M.


6. A mãe
De Bertolt Brecht
Encenação de Gonçalo Amorim, Culturgest

Gonçalo Amorim e um exigente grupo de actores trouxeram ao grande auditório da Culturgest um Bertolt Brecht capaz de construir uma desassombrada reflexão sobre as nossas guerras, a nossa crise económica e a nossa violência. O texto, de uma desmedida tendência cinemática, fazia-se atravessar pela memória colectiva das longas filas de desempregados dos telejornais, pelas imagens dos motins de Atenas e de Paris e por uma reflexão crítica sobre o modo de intervenção social nao mundo contemporâneo. Jogado com uma cadência rápida e rigorosa, animado pela paródia, o espectáculo de Gonçalo Amorim privilegiou a criação de um estado impressivo no espectador, não o deixando esquecer que "Portugal é um país igualzinho aos outros". R.P.C.


7. O Efeito de Serge + A Melancolia dos Dragões
De Philippe Quesne
Encenação de Philippe Quesnte, Vivarium Studio, Culturgest

Os dois espectáculos que Philippe Quesne trouxe à Culturgest têm uma continuidade singular: o trabalho em cima do que é reutilizável (a mesma equipa, os mesmos adereços e cenários, as mesmas pequenas cenas de peças anteriores); meios plásticos vistosos q. b., simples e artesanais; e uma pesquisa da subjectividade em tempos de cultura de massas, notável em especial pelo sentido de humor, compassivo mas derrisório ao mesmo tempo, com tempos cómicos únicos e originais, que, em si, engolem e assimilam a indústria cultural mas expressam em vez de dominar. J.L.F.


8. As Criadas
De Jean Genet
Encenação de Luc Bondy, Volksbühne, Teatro Municipal de Almada (Festival de Almada)

As criadas que, às escondidas, provam os vestidos das senhoras explicitam a luta perpétua contra qualquer autoridade. O jogo de trocar de roupa, calçar os sapatos da mãe ou pôr o chapéu da patroa coloca os espectadores lado a lado com as criadas na memória desses faz-de-conta da infância, iniciados desde que saíram do orfanato e foram lançadas em rituais suspeitos pela mãe adoptiva. É o passado que surge nesta versão realista de "As Criadas" a legitimar a carga da simulação e a precipitação das acções até ao suicídio de uma das supostas irmãs. J.L.F.


9. Spectacular
De Forced Entertainment
Encenação de Tim Etchells, Forced Entertainment, Auditório de Serralves (Trama - Festival de Artes Performativas)

Em "Spectacular" assistimos apenas a uma enumeração de mortes em cena, e a um relato de um espectáculo inexistente. Mas estas representações da morte e da ausência (tanto o gesto e o corpo dramáticos da actriz como a pose satírica do actor) são tão eficazes que acreditamos nelas mesmo sabendo que tudo não passa de fingimento. Ao invés de usar lantejoulas e truques de grande efeito visual, os Forced Entertainment sublinham que são apenas actores apresentando ideias, com vontade de representar a morte. Fica resumida a vida. J.L.F.


10. Menina Else
De Arthur Schnitzler
Encenação de Christine Laurent, Teatro da Cornucópia, Teatro do Bairro Alto

Christine Laurent adaptou o romance de Schnitzler e o monólogo interior fez-se corpo, olhar, expressão. Rita Durão criou o mundo e a solidão de Else, levando-nos a percorrer salas claras e desejos obscuros, a escutar vozes e diálogos das personagens que não víamos, numa composição delicada, intuitiva e inteligente. Um solo impressionante. R. M.


quinta-feira, 2 de julho de 2009

hoje estou contente

parece que o espectáculo está a resultar... e as pessoas gostam de vocês e do vosso trabalho. Isso é a melhor coisa que posso ouvir. Sempre na busca da imperfeição (não é engano), busca na imperfeição. No seio da imperfeição, encontrar o humano.
O último espectáculo já está aí. Será que estes dias chegam? Será que chegam para ficarmos contentes?, satisfeitos?

terça-feira, 30 de junho de 2009

Morreu hoje Pina Bausch, aos 68 anos.

"Nunca gostei de peças que se desenrolam num só nível; o ambiente das minhas está sempre a mudar, com o fim sempre em aberto. Eu também não sei. Há mais perguntas que respostas. Há muitas perguntas" in Público

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Porque...

...não.

Porque à medida que as coisas avançam, as dúvidas aumentam.

Porque tudo é tão simples e vivemos apaixonados pela complexidade.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Estou.

Estou convicto de que o vou fazer... Uma pessoa amiga disse-me um dia: "Não há nada a temer, pois, isto é um acto de generosidade." Abrir os olhos do espírito perante esse acto. Beber desse tom generoso. E não esquecer que é amor. Amor para com este vão de escadas que é o Teatro. Para com quem dança connosco este rito. Estou convicto de que o vamos fazer.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Hoje...

...não estou contente porque há alturas em que a frustração é maior que o optimismo. Não que me esteja a reduzir à constante necessidade da "palmadinha nas costas", mas sim porque me sinto incapaz de elevar às expectativas dos outros e, principalmente, às minhas próprias. Porque tenho, por vezes, vislumbres do que "é" mas nunca estou lá; nunca sou!

Às vezes aquilo não é um palco. É uma arena. E o mais fácil de concretizar é o mais difícil de alcançar.

Porque sou burra. Já percebo menos do que alguma vez percebi disto de se ser "artista" ou "actriz".

Mas sem dramas. Não me dou com esse género de género!